
passaportes?
Antigo professora de Ecologia Florestal e Gestão na Universidade de Wageningen
A palavra sobrepopulação é muitas vez utilizada de forma casual e tomada como certa por toda a gente que conhece o seu significado. Todos indicam que conhecem o seu significado, no entanto, e infelizmente, as formas através das quais as pessoas conhecem tal palavra variam. Estamos a lidar com uma confusão de línguas. É por isso que vamos agora dissecar o tempo aqui, para ver que elementos contém.
Curvas Populacionais
Na escola aprendemos que, até Napoleão, digamos até 1800, o muito era muito pouco populada e que a população começou a crescer cada vez mais rapidamente após esta época. Foi-nos dito que estimativas, tais como as indicadas pelo antigo Grego Xenofonte, de exércitos Persas com centenas de milhares de soldados, foram resultado dos Gregos primitivos não serem capazes de contar adequadamente. No entanto, este julgamento está errado.
Um estudo de 1973 realizado por Jean-Charles Pichon, com base em censos antigos de Roma e da China, entre outros dados, aponta para uma população mundial de cerca de três biliões no terceiro século DC. De acordo com historiadores como Montesquieu (século XVIII) ainda existia a mesma população que existia em 1100. Após tal ponto, a população começou a diminuir drasticamente. Em 1580, restavam 400 milhões de pessoas. A população começou então a crescer novamente, devagar. Advertências religiosas encorajar um maior número de nascimentos depois de períodos como a Peste negra, colheitas falhadas, incêndios e guerras. Só depois da década de 30 é que a marca dos três biliões foi novamente atingida.
É um facto que a curva populacional segue um movimento de ziguezague. Um período de crescimento que leva a um pico seguido de uma estabilização, é sempre sucedido por um colapso que resulta novamente em números populacionais baixos.
Um estudo científico das florestas também trouxe à luz da discussão provas deste padrão. A desflorestação ocorreu em todas as partes do globo em diferentes níveis durante o último milénio. Na América do Sul, por exemplo, o solo debaixo da floresta tropical contém muitas camadas de carvão a várias profundidades. Isto mostra como a ideia de floresta "virgem", intocada pela intervenção humano, é outro mito.
Os níveis de nascimento, crescimento e declínio através dos quais as civilizações passaram, correspondem a desenvolvimentos no tamanho da população. Durante períodos de crescimento vigoroso, as sociedades tentaram basear-se no seu conhecimento "científico" e na tecnologia (Egipto, por volta de 2000 AC; Egipto e Grécia por volta da era de Cristo bem como a civilização actual). Os níveis de estabilização e de queda são seguidos de períodos de renascença religiosa. Estas épocas de colapso são, claro, períodos desastrosos e negros da história da humanidade e, mesmo depois destes se sucederem, as pessoas não desejam ser lembradas dos factos.
Esta é uma imagem grande que informa da nossa tentativa de uma população de 10 milhões. Os cidadãos Holandeses que não têm consciência da questão são "lemingues com passaportes". A nossa população está perto de um pico na curva de ziguezague. A fé em curvas de crescimento simples e a nossa capacidade de controlar a natureza não nos irão ajudar, uma vez que tais crenças se baseiam em mitos.
A sobrepopulação depende sempre da relação entre três factores que são: o tamanho da população, o tamanho da superfície total de terra disponível e a "lista de desejos" da população numa civilização em particular num período em particular da história.
No caso da Holanda, a curva de ziguezague é bastante clara. Os dilemas foram alternadamente respondidos através de períodos de guerra e períodos de inovação criativa. Dentro da nossa memória colectiva, esses períodos são conhecidos como "idades de ouro". Hoje em dia, não podemos expandir a nossa superfície de terra através da conquista. Nem sequer existe muito mais a ganhar através do aceleramento da produção. De algum modo, estamos a viver num monte de esterco (que muitas vezes cheira mal). Alguém chamou, há algum tempo, ao nosso tipo mais comum de paisagem "estepe cultural". Todas as florestas que temos na Holanda foram deliberadamente plantadas, não contando com uma áreas variáveis mais pequenas que se desenvolveram "naturalmente", por acidente, à volta dos lagos Oostvaarder e Lepelaar.
Estamos de facto a viver numa era dourada, rica em pensamento e invenção. Estamos, no entanto, a estreitar os limites de potencial da nossa área de terra e do nosso uso da mesma aqui na Holanda. O único facto que poderemos ainda ser capazes de mudar é o nosso tamanho populacional. Actualmente, é latente um estado de coisas interno que pode ser comparado a um estado de guerra que está a conduzir mais e mais pessoas a beberem até morrer, a terem overdoses com estupefacientes ou a a matarem-se umas às outras através de violência "sem sentido": todas as respostas tipo lemingue e primitivas.
O verdadeiro passaporte Lemingue
A revolução de 1968 destruiu antigas estruturas e ideias. Estas não puderam ser utilizadas para misturar as sociedades em mudança à volta do mundo numa viagem estável. Isto deveu-se, principalmente, às limitações de espaço e ao crescimento selvagem da população.
O nosso passaporte real é um conjunto substancial de novas soluções para problemas tradicionais. Na Holanda, somos obrigados a considerar possíveis restrições às nossas listas de desejos. Isto, no entanto, não nos irá levar longe. Quem, depois disto, estiver preparado para abdicar do carro ou do barco, está preparado para aceitar cuidados de saúde sub-padronizados? No passado, tal interferência em questões individuais, ocorreu apenas quando forçada pelos regimes religiosos ou totalitários, como por exemplo os dos imperadores Chineses e monges Budistas. Com frequência, estes duraram por séculos ou mesmo milénios e podem, certamente, ser considerados como possuindo algum mérito no que diz respeito a sustentabilidade.
No entanto, sem qualquer dúvida no topo das nossas listas de desejos situam-se a liberdade, a democracia, o bem-estar, a prosperidade e a justiça. Infelizmente, na nossa sociedade actual, estes valores são expressos numa tendência altamente pueril e são, portanto, efectivamente contra-producentes. A chave para uma política populacional sonante parece assentar numa mudança radical na forma como aplicamos o nosso desejo quanto a estes valores. Em vez de serem considerados como "presentes" da Holanda para os seus cidadãos, deveriam tornar-se meios através dos quais atingimos um funcionamento social adequado. Isto acontece possivelmente se lhe dermos um significado dentro da estrutura da nossa cultura.
O que é necessário é uma mudança na nossa perspectiva de ver as coisas: não nos basearmos constantemente nos meus direitos e liberdades individuais, mas clamando liberdade como indivíduo fazendo o que é correcto; não desejando ser rico individualmente, mas querendo ser um cidadão de um país próspero; não esperando que o Estado tome conta de mim, mas tomando conta uns dos outros; não desejando poder para o meu partido, mas pedindo poder para toda a gente, ao qual nos submeteríamos voluntariamente; não clamando liberdade para fazer aquilo que me apetece mas tentando clamar a nossa liberdade para fazer colectivamente o que é necessário e dedicar este poder aos melhores de nós.