
Atena Promacos
Atena Promacos ou Atena Prômacos[2] (em grego: Ἀθηνᾶ Πρόμαχος; romaniz.: Athena Prómachos) foi uma colossal estátua de bronze representando a deusa Atena, criada por Fídias em meados do século V a.C. e instalada na Acrópole de Atenas, na Grécia Antiga. Na Antiguidade foi frequentemente chamada de Atena de Bronze, para distingui-la de outra estátua de porte similar criada pelo mesmo artista e também presente na Acrópole, a Atena Partenos, revestida de ouro e marfim e apelidada de Atena de Ouro. Ao que parece nunca teve um nome oficial.
A Promacos foi muito admirada em seu tempo e gerou folclore, mas perdeu-se em data e de forma ignoradas. Dela só restam hoje registros literários e reproduções em moedas e outras fontes, que são de baixa qualidade e cuja fidelidade ao original é muito incerta, havendo, de fato, testemunhos discordantes sobre sua forma, estilo e aparência geral. A obra parece ter gerado prolífica iconografia, mas como seu aspecto verdadeiro é desconhecido, é difícil estudá-la, e os indícios sugerem que sua imagem se fundiu a outras tradições iconográficas referentes a Atena, complicando sua identificação.
"Além de todas as que já listei, há duas outras oferendas atenienses dedicadas com os espólios tomados na guerra; uma é uma estátua de bronze de Atena, dos espólios dos persas que atacaram em Maratona, que é obra de Fídias. As pessoas dizem que a batalha dos lápitas contra os centauros que está representada no escudo e todos os outros relevos foram gravados pelo escultor Mís, e que essas e outras decorações foram projetadas para Mís por Parrásio, filho de Evenor. A ponta da lança e o elmo cristado desta Atena podem ser vistos pelos marinheiros desde o Cabo Sunião".[4]Um registro de um comentarista de Demóstenes em Contra Andrócio (em latim: Contra Androtion) também a refere como uma oferta votiva dedicada pela vitória ateniense na Batalha de Maratona, e esta tradição se firmou entre os romanos.[7][6] Porém, hoje se considera sua datação incerta. Durante muitos anos, seguindo Pausânias e a tradição romana, a crítica pensou que ela havia sido construída entre pouco após a batalha, ocorrida em 490 a.C., e antes de c. 450 a.C., quando inicia o programa de Péricles de reconstrução da cidade de Atenas, devastada pelos persas nas Guerras Médicas.[6][8] Reforça esta teoria um registro contábil continuado ao longo de uma década entre c. 465-450 a.C. a respeito de compras de materiais de escultura em bronze para uma obra de grandes proporções que custou a fortuna de aproximadamente 85 talentos e levou quase dez anos para ser concluída, que na respeitada opinião de William Bell Dinsmoor e Jerome Pollitt parece apontar só para a Promacos, mas infelizmente esses registros não descrevem nem nomeiam a obra para a qual os materiais se destinavam. Por outro lado, alguns estudos recentes aceitam que teria sido criada mais ao menos ao mesmo tempo que a Atena Partenos, cuja datação é mais segura: 446-438 a.C.[7][9][4][6][8]
Instalada a céu aberto na entrada da Acrópole, tinha uma altura provável em torno de 10 metros, fora o pedestal, sendo vista a grande distância.[4] Com ela o nome de Fídias se tornou proeminente.[10] Pouco se sabe sobre seu aspecto, pois a obra perdeu-se e dela só restam imagens em moedas e cópias miniaturizadas muito imperfeitas e desiguais, mas que permitem fazer uma ideia geral. Moedas romanas dos séculos II e III cunhadas em Atenas, que a mostram entre edifícios da Acrópole, consistentes com a descrição de Pausânias, são a fonte mais segura para reconstruir a imagem. Elas a mostram parcialmente, de pé, segurando na mão direita uma imagem de Nice, a deusa da Vitória, com a ponta de uma lança sobressaindo ao seu ombro esquerdo. Outras moedas helenísticas e romanas a mostram completa, em atitude similar, mas não se tem certeza de que representavam a Promacos, podendo ser imagens também da Atena Partenos, que alguns pensam ter-lhe sido muito semelhante.[6][4][5][11][12] A fragmentária Minerva de Ingres, hoje no Museu do Louvre, é uma cópia romana de grandes dimensões (2,6 m) de uma Atena clássica apresentada como possível cópia da Promacos.[13] No entanto, sua iconografia é variável, outras fontes mostram uma enorme figura de coruja a seus pés, ou uma coruja sobre um tronco, sob a mão direita, às vezes tem associado um escudo, uma coluna ou uma serpente, e várias têm sido as propostas modernas de reconstrução, com resultados bastante divergentes.[6][4][8]
Suas representações se misturam também a uma tradição paralela e mais antiga de figuração de Atena em sua qualidade guerreira, e assinalada em moedas, vasos, estatuária e outros meios, que forma a família tipológica que veio a ser chamada pela crítica de Promacos. O apelido específico Promacos, aliás, se refere a um de seus principais atributos, a arte da guerra, bem como à vitória em geral, sendo invariavelmente mostrada nesta qualidade nas ânforas panatenaicas oferecidas como prêmio aos vencedores dos jogos atléticos. Esta tradição mostrava Atena em movimento ativo, em plena batalha, acompanhada de outras figuras ou mesmo isolada, tendo uma perna à frente da outra como que a avançar, o braço direito erguido a brandir sua lança, e o braço esquerdo segurando o escudo elevado. O tipo se tornou particularmente popular depois que foi introduzido na decoração das ânforas panatenaicas, mas é difícil saber se ele influenciou Fídias na composição da atitude da sua obra. O que parece é que depois de a estátua se tornar notória, qualquer que tenha sido sua postura verdadeira, sua tradição se funde à outra, e também em parte à da Atena Partenos, de maneira inextrincável. Esse modelo dinâmico e agressivo se tornou outra vez influente entre o século XIX e o século XX entre os acadêmicos que tentavam reconstituir as especificidades da Atena Promacos fidiana.[4][5][11][14][15][7][6][12]
Torna a situação bastante mais complicada o fato de haver na Antiguidade numerosas estátuas de Atena na Acrópole, várias com grandes dimensões, e sua identificação separada nas fontes antigas é extremamente confusa.[11] Olga Palagia, sumarizando estudos recentes, acredita que ela era uma versão bastante similar à Partenos, correspondendo em linhas gerais às moedas romanas citadas no início, estando simplesmente de pé sem aparentar movimento, com um elmo cristado a cobrir a cabeça, tendo na destra a Nice e a lança a repousar no ombro esquerdo, cuja mão descansa sobre um escudo que toca o chão e se apoia contra suas pernas.[6]
Seu estilo é igualmente incerto. As fontes mais fidedignas, as moedas romanas, são pobremente detalhadas e só permitem um vislumbre de sua postura geral.[7] Mesmo que tenha sido construída na segunda metade do século, quando já predominava o estilo clássico, do qual Fídias é um dos fundadores, as ligações da tipologia Promacos com valores muito antigos e venerados pelos atenienses podem ter levado o artista a dotá-la de linhas arcaizantes.[11][5][6][12][16] Nas ânforas panatenaicas e em ofertas votivas encontradas na Acrópole uma Promacos claramente arcaizante aparece ao longo de séculos depois de aquele cânone ter ficado obsoleto em outros contextos, mas suas ligações com o estilo da estátua de Fídias também não são claras.[7][11][5][6][12][16][15]